terça-feira, 29 de maio de 2012

26 de maio de 1952 - A reintegração da Alemanha na Convenção de Bonn

"Este tratado garante a paz e a liberdade da Alemanha e conduzirá à unificação e à liberdade do país. Saudamos nossos irmãos do Leste e asseguramos que, com este tratado, demos um passo importante para a unidade dentro da liberdade. Começa uma nova era na história européia". Konrad Adenauer, Chanceler alemão

Após sete anos de ocupação, a República Federativa da Alemanha é integrada em base de igualdade com as demais nações européias num documento assinado com os Estados Unidos da América do Norte, o Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, e a República da França.

Com objetivo de fortalecer uma comunidade européia de nações, pacífica e próspera, unida às outras nações livres do mundo pelo cumprimento aos princípios da Carta das Nações Unidas, mediante o apoio e a defesa conjunta da liberdade e da herança comuns, a proposta do tratado era incorporar a República Federal de Alemanha sobre bases de igualdade à comunidade européia, incluida por sua vez na comunidade do Atlântico.

Para a Alemanha, devastada e derrotada ao fim da Segunda Guerra (1939-1945), era a oportunidade de reerguer-se economicamente, resgatar sua importância sócio-cultural perante ao mundo e retomar relações diplomáticas com as principais potências, através de um modelo inteiramente livre e pacífico.

Konrad Adenauer, político alemão cristão-democrata, foi um dos principais articuladores do processo. Interessado em estabelecer a Alemanha Ocidental como uma proteção para conter a expansão dos soviéticos na Europa, aproximou relações com os Estados Unidos e se reconciliou com a França.

A Era Adenauer
Era um homem calmo e meticuloso, de sorriso discreto no rosto vagamente parecido com o de um índio pele-vermelha, o velho de 73 anos que se apresentava ao novo parlamento germânico como candidato a Chanceler no 15 de setembro de 1949. Um voto apenas - o dele mesmo - garantiu-lhe a vitória, repetindo o episódio de 1929, quando o seu próprio voto o reelegeu Primeiro Burgomestre de Colônia. Em 1949 eram outros tempos: a Alemanha começava com ele um novo caminho, traçado segundo as suas normas, ou apesar delas, mas que hoje guarda, de qualquer forma, a marca dos seus passos.

O Chanceler tomava posse num país arbitrariamente dividido, onde a religião política à qual a maioria dos alemães aderiria por desvario ou oportunismo lhes fora arrebatada totalmente e revelada como impostura corrupta e desprezível. Assumia afinal, um posto que raros invejavam. E nele durou mais que qualquer outro Chanceler, desde Bismark, que resistiu até os 89 anos de idade. Tantas vezes na crista das ondas e na baixa-mar, a Alemanha haeria de chegar ao seu melhor nível apoiada num homem fundamentalmente civil, paradoxo de paciência e paixão.

23 de maio de 1932: MMDC - Mártires da Resistência


A sigla MMDC ficou marcada na história do país em homenagem aos quatro estudantes mortos durante confronto com a polícia getulista na noite de 23 de maio de 1932, quando um grupo de populares participava de uma manifestação em oposição ao governo, na Praça da República: Mário Martins de Almeida, 31 anos, solteiro, fazendeiro, nascido em São Manoel (SP); Euclydes Bueno Miragaia, 21 anos, solteiro, auxiliar de Cartório, nascido em S. José dos Campos(SP); Dráusio Marcondes de Souza, 14 anos, ajudante de farmácia, nascido em São Paulo; Antonio Américo de Camargo Andrade, 30 anos, casado, 3 filhos, comerciário, nascido em São Paulo.

Por trás da reivindicação de uma nova constituição, havia a questão da política do café-com-leite, com a qual São Paulo sentia-se desprestigiada desde a Revolução de 30, com o golpe que impediu a posse de Julio Prestes.

O incidente deu origem ao Movimento MMDC, organização civil clandestina que concentrou o alistamento voluntário para quem depois oferecia treinamento militar, e foi o estopim para a revolução constitucionalista. A força de resistência constituída posicionou-se em frentes de combate nas divisas de São Paulo com Minas Gerais, com o Paraná e no vale do Paraíba. E no dia 9 de julho de 1932 deu-se início o conflito armado contra a ditadura. Intelectuais, industriais e estudantes, políticos ligados à República Velha ou ao Partido Democrático, excluído do governo por Vargas, pegaram em armas para lutar por São Paulo. Aguardaram em vão o apoio de outros estados. No dia 3 de outubro, as tropas paulistas se renderam diante da superioridade das forças federais.

Os rapazes tornaram-se mártires da revolta e anos mais tarde, o 23 de maio passou a constar no calendário oficial do estado paulista como Dia da Juventude Constitucionalista, em alusão à participação dos jovens na revolução.

Em 1930, Getúlio Vargas deu um golpe de Estado e assumiu a Presidência, em caráter provisório, mas com amplos poderes. O Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e até as Câmaras Municipais foram fechadas. Os governadores dos Estados foram substituídos por interventores nomeados por Vargas. Nessa época São Paulo, que havia rompido com Minas a política do café-com-leite e que havia sido a principal base política do regime da Primeira República, era encarado como um foco oposicionista.

21 de maio de 1968: 10 milhões param a França


Trezentas fábricas ocupadas e centenas interditadas, inclusive as grandes indústrias siderúrgicas, metalúrgicas, químicas e as automobilísticas. Paralisação total do sistema de transportes, à exceção dos táxis. Nenhum trem, ônibus ou avião em circulação para a locomoção municipal, interprovincial ou para o exterior. No setor das comunicações, em funcionamento apenas o sistema telefônico direto e o serviço de telegramas. Fora do ar todo o sistema de rádio e televisão. Contingentes da Polícia no entorno dos prédios públicos. Esgotados os estoques de alimentos, falta de combustíveis e acúmulo de lixo nas ruas. Pichados os muros e monumentos de Paris, historicamente zelados pela importância cultural. Escolas fechadas. A França isola-se. Paris transforma-se na capital da crise do mundo moderno.


Continuando o efeito dominó, o movimento grevista, que já abalava a França desde o início do mês com os protestos dos estudantes e o apoio pleno da classe operária, alcançou seu ponto máximo estimando-se 10 milhões de integrantes, em virtude da adesão de novos setores em todo o país. Pararam os portos marítimos e fluviais, as instituições financeiras e os serviços públicos, que colocaram em xeque-mate o fornecimento de energia elétrica, gás e água.

Na maior greve de sua história, a França teve sua infra-estrutura largamente paralisada ou rendida ao controle operário.


O alvo das reivindicações era o Governo De Gaulle: reclamava-se a derrubada do governo, a tomada do poder e por mudanças políticas radicais. Acuado o presidente Charles de Gaulle anunciou que o governo levaria a cabo as reformas educacionais pedidas pelos estudantes e garantiria melhores condições à classe trabalhadora.

Os ecos do maio francês de 1968

Paradoxalmente, a greve geral que isolou a França atraiu para o país as atenções de todo o mundo. Após as tensas semanas da primavera, a paralisação chegou ao fim. Com os dias contados estava também o governo do General De Gaulle, que renunciaria ao mandato em abril de 1969, após uma derrota no referendo para transformar o Senado francês num corpo consultivo.

A dimensão daquele maio de 68 ficou evidente na repercussão dada à greve geral além das fronteiras da França. Propagando ideais de igualdade e liberdade, o movimento revolucionário inspirou levantes sociais no mundo inteiro.

16 de maio de 1943: O fim do Gueto de Varsóvia



O Gueto de Varsóvia não existe mais. Das construções da porção judaica da cidade polonesa, só restaram escombros. Dos judeus que lá estavam confinados, sem direito a trabalho, higiene ou alimentação, só restaram pilhas de cadáveres. Estima-se que foram 56 mil mortos. Assim terminou a revolta do Gueto de Varsóvia, na qual judeus mal-armados e famintos enfrentaram as forças alemãs durante quatro semanas. A opção pelo confronto, mesmo sabendo da desigualdade entre as forças, foi consciente. Era melhor morrer lutando com dignidade do que ser aprisionado em campos de concentração onde chegariam como animais em abatedouros. Já havia o conhecimento do destino traçado aos demais 300 mil habitantes que foram levados para Sobibor ou Treblinka. Portanto, era melhor enfrentar tanques com coquetéis molotov; era melhor morrer queimado vivo dentro da própria casa do que deixar-se arrastar pelos alemães, que entraram no gueto no dia 19 de abril com a missão de evacuar a área e embarcar toda a população para os campos de concentração.

As poucas fugas que se tem conhecimento foram através das saídas de esgoto.

O Gueto de Varsóvia foi a concentração forçada de um grupo judaico da cidade polonesa, isolado pelos nazistas a partir de 1939, quando da invasão alemã aquele país, durante a Segunda Guerra Mundial. Cercado por um muro, arames e cacos de vidros, tornou-se o destino obrigatório de todos os judeus de Varsóvia evidenciando ainda mais a segregação. Sua população chegou a atingir 380.000 pessoas, sob condições desumanas, expostas a doenças, ao frio e à fome. Em julho de 1942, como estratégia principalmente de minimizar o contágio de epidemias, iniciou-se a transferência forçada dos judeus mais fragilizados, os que não tinham disposição como força de trabalho, entre eles idosos, mulheres e crianças, para campo de extermínio. Restaram cerca de 60 mil habitantes no gueto, promovendo uma qualificação de espaço e alimentação. Os judeus que permaneceram trabalhavam como escravos para as fábricas alemãs. Esses remanescentes passaram a compor organizações pela Luta Judaica. Esses grupos de resistências muniram-se com armas e bombas, numa tentativa de enfraquecer a presença do exército alemão. Formaram também instituições culturais e de auxílio de alimentação e educação aos judeus.

9 de maio de 1968 — URSS invade Tcheco-Eslováquia

A União Soviética decidiu intervir militarmente na Tcheco-Eslováquia para barrar o processo de democratização conduzido pelo líder do Partido Comunista tchecoslovaco Alexandre Dubcek. Tropas soviéticas atravessaram a Polônia em direção àquele país.

As dificuldades entre a Tcheco-Eslováquia e a União Soviética começaram em janeiro de 1967, com a derrubada de Antonin Novotny – um dos homens da velha guarda do partido – e a sua substituição por Dudcek. O novo líder do PC tchecoslovaco procurou afastar as suspeitas soviéticas, declarando-se fiel à linha socialista e ao Pacto de Varsóvia, e argumentando que a abertura política fora motivada pela própria história e as tradições do seu país.

O objetivo da reforma proposta por intelectuais do Partido Comunista tchecoslovaco era o de transformar pacificamente um regime comunista ortodoxo em uma social democracia, nos moldes dos países ocidentais. As mudanças na estrutura política, econômica e social foram anunciadas em abril, um mês antes da movimentação das tropas soviéticas.

Dubcek prometeu uma revisão da Constituição, que garantiria os direitos civis. A abertura abrangeria também o pluripartidarismo, uma Assembleia Nacional, liberdade de imprensa, independência do Poder Judiciário e a tolerância religiosa.

As tensões entre a Tcheco-Eslováquia e a União Soviética aumentaram. Em junho, personalidades tchecoslovacas divulgaram um documento, que pedia a Dudcek para acelerar o processo de democratização.

Primavera de Praga
Diante dessa ameaça à hegemonia política da União Soviética, a Rússia enviou tropas de países do Pacto de Varsóvia à capital do país, no episódio que ficou conhecido como Primavera de Praga. Em 20 de agosto, sete mil tanques entraram na Tcheco-Eslováquia. No conflito morreram 72 tchecoslovacos. Dubcek foi preso e destituído do cargo.
As reformas foram canceladas e o regime de partido único continuou a vigorar na Tcheco-Eslováquia até o fim da União Soviética em 1989, quando o país retomou as reformas com a Revolução de Veludo. Em 1993, a República Tcheca e a Eslováquia, separaram-se na chamada Separação ou Divórcio de Veludo.

9 de maio de 1605: A publicação da primeira parte de Don Quijote


"Pois que o amor e a afeição com facilidade cegam os olhos do entendimento". Dom Quixote

A primeira parte de Don Quijote de la Mancha, o trabalho mais famoso de Miguel de Cervantes, foi publicada em 9 de maio de 1605. No mesmo ano, a obra ganhou seis edições, fato muito raro para a época.A segunda parte só seria publicada dez anos mais tarde.

Don Quijote é um cavaleiro andante que, influenciado pela literatura de contos sobre a cavalaria medieval, vive diversas aventuras pelo interior da Espanha, sempre acompanhado de seu fiel escudeiro, Sancho Pança. Dono de um rico imagiário, o fidalgo mergulha em seus delírios, tomado muitas vezes como um louco. Mas é um herói lírico, de sentimentos nobres e puros, típico da época, sempre em busca de provar o seu amor pela amada Dulcinéia Del Toboso. E encanta os leitores, ao despertar simpatia e fé.

É uma das obras mais conhecidas da literatura mundial, que atravessou os séculos e permanece como uma das leituras mais influentes na cultura ocidental.

Miguel de Cervantes
Miguel de Cervantes Saavedra nasceu em 29 de setembro de 1547 na pequena Alcalá de Henares, cidade perto de Madri, numa família da baixa nobreza. Só aos 58 anos, após uma vida de toda sorte de atividades - lutou em combates, foi cobrador de impostos do governo, trabalhou como serviçal para um cardeal - lançou-se na literatura com a publicação da primeira parte de Don Quijote de la Mancha, o que o grande público considera o momento maior de sua obra.

Romancista, dramaturgo e poeta, revolucionou a literatura ao utilizar recursos como a ironia e o humor, consagrando-se o autor mais famoso da Espanha.

5 de maio de 1928: A inauguração da estrada Rio-São Paulo



"A estrada Rio-São Paulo, cuja inauguração se verifica hoje, é uma obra notável, executada no curto espaço de quinze meses, que honra os
técnicos nacionais que a projetaram e construíram, e vem engrandecer mais ainda o já numeroso acervo de glórias da engenharia brasileira."

Jornal do Brasil


Após habitar os anseios de fluminenses e paulistas, consolidava-se o elo rodoviário entre os mais importantes centros político-econômicos do país. Num momento memorável para a engenharia nacional, a comitiva presidencial, liderada pelo chefe do governo Washington Luís (1926-1930) partiu do Palácio Guanabara, em direção a São Paulo, na viagem inaugural da Estrada de Rodagem Rio-São Paulo. Ao longo do trajeto, sucessivas manifestações, programadas e espontâneas, atraíram a participação de populares numa demonstração máxima de contentamento.

O empreendimento da rodovia Rio-São Paulo fez parte do grande plano rodoviário do Governo de Washington Luís (defendido em campanha eleitoral com o lema Governar é abrir estradas), impondo-se como medida primordial à expansão da integração do Brasil, até então restrita às linhas férreas(Saiba aqui mais sobre a história da primeira viagem Rio-São Paulo de trem). Além de aproximar a Capital Federal de vários destinos estratégicos ao progresso do país, quebrou o monopólio das ferrovias, favoreceu o intercâmbio comercial, facilitou a convergência de produtos agrícolas para os centros de consumo e trouxe novas perspectivas de desenvolvimento para as cidades interioranas às suas margens.

Em 19 de janeiro de 1951, a Rio-São Paulo cedeu vez a um novo traçado: a Rodovia Presidente Dutra, com tempo de viagem sensivelmente reduzido. Atualmente, a Via Dutra é o principal eixo rodoviário do Brasil.

2 de maio de 1989: Bomba explode Memorial e reabre feridas da CSN



O Memorial 9 de Novembro, inaugurado com parte das comemorações do dia 1º de Maio, foi atingido por uma bomba.

O projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, erguido na praça principal de Volta Redonda, homenageava os três operários mortos durante a repressão militar à greve ocorrida em novembro de 1988 na Companhia Siderúrgica Nacional. Soldados do Exército de vários quartéis do estado e do Batalhão de Choques da Polícia Militar do Rio de Janeiro dispersaram uma manifestação em frente ao escritório central da companhia e invadiram a usina, culminando na morte dos operários.

O monumento de concreto tinha 6m de altura e 15 t de peso.

A explosão foi violenta a ponto de ser ouvida a uma distância de 3 km, e reduziu a estilhaços os vidros dos prédios situados num raio de 300 metros. Não houve vítimas, mas sob o impacto até as portas de aço do edifício da CSN, situado na praça, foram arrancadas ou ficaram empenadas.

Segundo as primeiras investigações, peritos do Instituto Carlos Eboli declararam que se tratava de obra de profissionais. Uma segunda bomba não detonada foi encontrada horas depois. O então presidente José Sarney soube do atentado assim que chegou no Palácio do Planalto, informado pelo chefe do SNI e considerou o episódio "profundamente lamentável ".

A noticia da explosão caiu como uma bomba no Congresso Nacional e dominou as rodas de conversa. Lula lembrou o caso do Riocentro e a bomba que matou uma secretária da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio para insinuar que este seria mais um atentado que não seria investigado pelo governo.

A participação do Exército
A participação do Exército no atentado foi revelada em 1999 com a declaração do ex-capitão Dalton Roberto de Melo. Em depoimento ao JB o ex-capitão denunciou o general Álvaro de Souza Pinheiro como autor intelectual do atentado.

O depoimento do ex-capitão Dalton lançou luz em recantos escuros da história recente do Brasil. Ao contar o que sabia, ele mostrou a dimensão dos conflitos internos do período chamado de 'abertura política'.

O Memorial foi mantido como ficou após atentado a pedido de Niemeyer.

1940 - A festa do proletariado



"O dia de hoje é celebrado por toda a Humanidade. O Dia do Trabalho é a data máxima da família proletária. No dia de hoje flamejam as glórias dos que vivem do trabalho e para o trabalho. O Brasil comemora o 1º de Maio com uma festa de autêntica confraternização nacional. As comemorações organizadas para hoje excedem a quantas já foram levadas a efeito nesta Capital". Jornal do Brasil

Diante de uma multidão proletária e de autoridades governamentais, em concentração pelos festejos do Dia do Trabalho no Estádio Vasco da Gama, o Presidente Getúlio Vargas atendeu à aspiração das diversas classes trabalhadoras e fixou em tabela os valores do salário-mínimo em todo o território nacional, calculado para suprir as necessidades básicas do trabalhador brasileiro. A iniciativa previa beneficiar de imediato um milhão de brasileiros.

As comemorações oficiais do Dia do Trabalho foram elemento essencial no plano político do Governo Vargas de promover a melhoria das condições de vida dos trabalhadores, e, em decorrência, garantir ao presidente prestígio junto às classes populares. Nessas solenidades programava-se uma série de atividades para atrair a participação expressiva dos trabalhadores e de seus familiares: Apresentações de orquestras e grupos corais, exibições de dança, projeções de filmes, ... O ritual aproximava o Presidente de seu público através do chamamento inicial: 'Trabalhadores do Brasil!'. Frente-a-frente, orador e ouvinte minimizavam rusgas para o anúncio das medidas do governo. Ao invés de lançar-se às ruas em manifestações historicamente tratadas como caso de polícia, o público era agradavelmente surpreendido pelos espetáculos que presenciava.

São Januário, estádio dos operários

Erguido em 1927 após superar uma série de empecilhos contrários à sua construção, resultantes do esforço da elite em coibir a popularização do esporte no país, o Estádio Vasco da Gama transformou-se num símbolo da luta das classes menos favorecidas no Brasil. Sua identificação com as camadas populares não se ateve às linhas do gramado, quando tornou-se o primeiro clube brasileiro a admitir jogadores negros em seu elenco. Durante a vigência do Estado Novo (1937-1945), o estádio abrigou sucessivas manifestações operárias, que traçaram os rumos para a ideologia trabalhista brasileira.

"Que a Igreja perca o dinheiro, mas não perca a si mesma", afirma Cardeal Martini


"Que a Igreja perca o dinheiro, mas não perca a si mesma". Essa é a opinião do cardeal italiano Carlo Maria Martini, arcebispo emérito de Milão, em nota publicada no jornal Corriere della Sera, 27-05-2012 acerca do vazamento de documentos no Vaticano. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

A Igreja, depois das notícias das últimas horas que falam do "corvo" no Vaticano, deve, com urgência, recuperar a confiança dos fiéis. Foi uma experiência de Jesus ser traído e vendido, não podia não ser também uma experiência da Igreja ou de qualquer papa.

Que quem grita ao escândalo se lembre do que aconteceu há 2 mil anos atrás. E esse episódio também nasceu de uma traição, de uma ação malvada: devemos pedir perdão como Igreja a todos.

O escândalo sempre tem uma natureza tríplice: há aqueles que o recebem, aqueles que o fazem, aqueles que dele se aproveitam. Mas a Igreja pode olhar além e ler em sentido positivo aquilo que surgiu.

Que a Igreja perca o dinheiro, mas não perca a si mesma. Porque o que aconteceu pode nos aproximar do Evangelho e ensinar à Igreja a não apontar para os tesouros da terra (Mateus 6, 19-21).

terça-feira, 22 de maio de 2012

Regime militar volta ao debate público


Os casos do coronel Ustra e do Cabo Anselmo serão julgados apenas seis dias após a presidente Dilma Rousseffter instalado oficialmente a Comissão da Verdade, destinada ao esclarecimento de casos de violação de direitos humanos ocorridos no regime militar. Eles também vêm à tona no mesmo momento em que são levadas a cabo, em diferentes partes do País, ações destinadas a expor publicamente agentes de Estado acusados de terem participado de torturas, sequestros e desaparecimentos forçados.

O comentário é de Roldão Arruda, jornalista, e publicado no jornal O Estado de S. Paulo, 22-05-2012.

Pode ser somada a isso a grande disposição de militares da reserva, descontentes com a comissão, de divulgarem declarações de protesto contra a comissão, o que chamam de revanchismo, e críticas à presidente. Paralelamente, debate-se, em termos políticos e jurídicos, qual deve ser o alcance de comissão: julgar apenas as vítimas de crimes cometidos por agentes de Estado? Ou tratar também de violências que teriam sido cometidas por grupos de esquerda que recorreram às armas na tentativa de derrubar o regime?

Acima desse debate paira ainda a questão das leis internacionais, aceitas pelo Brasil, segundo as quais os chamados crimes de lesa-humanidade, entre eles o desaparecimento forçado, são imprescritíveis e não alcançáveis por leis de anistia como a que foi promulgada no Brasil em 1979 e referendada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2010.

Poucas vezes na história recente se viu um período de debate sobre o regime militar tão intenso e marcado por tensões.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Jovens mobilizam-se contra Lei da Anistia


Em frente à empresa de segurança privada Dacala, na zona sul da capital paulista, dezenas de militantes do Levante Popular da Juventude protestam contra o proprietário, David dos Santos Araújo, ex-agente de repressão do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna (DOI-Codi). Com o microfone em mãos, a estudante Lira Alli ataca Araújo, o capitão Lisboa. "O dono desta empresa é um torturador. É importante que todas as pessoas que moram aqui perto saibam. Ele assassinou, estuprou, prendeu e torturou pessoas que lutavam contra a ditadura". O protesto, realizado em 26 de março, destinou-se a marcar os 48 anos do golpe militar.

A reportagem é de Cristiane Agostine e publicada pelo jornal Valor, 17-05-2012.

Quase dois meses depois, às vésperas da instalação da Comissão da Verdade, em Brasília, o jovem Edison Rocha Junior é um dos que protestam no Guarujá (SP) em frente ao prédio onde mora o tenente coronel reformado Maurício Lopes Lima, apontado como torturador na Operação Bandeirante da presidente Dilma Rousseff e de Frei Tito. "Estamos aqui para denunciar à vizinhança e à sociedade que neste endereço, no apartamento 23, mora um torturador", diz Junior. As palavras foram repetidas por dezenas de manifestantes. No protesto, na segunda-feira, jovens pixaram "Aqui mora um torturador no apartamento 23 A" e colocaram faixa no edifício com a mesma inscrição.

Lira Alli, de 23 anos, e Edison Rocha Junior, de 26 anos, são dois dos articuladores do Levante Popular da Juventude, que promove atos conhecidos como "esculachos" contra torturadores e agentes de repressão da ditadura. O grupo realizou dois grandes protestos nacionais. No primeiro, em março, fizeram ações em dez Estados. No segundo, nesta semana, em onze Estados. Em ambos, reuniram centenas de jovens. Em março, participaram também de protesto organizado pelo cineasta Silvio Tendler no Clube Militar, no Rio de Janeiro.

O movimento divulga na internet a foto, o endereço e a acusação contra agentes da repressão militar e cobra punição. "Não queremos fazer justiça com as próprias mãos", diz Lira. "Não é uma ameaça direta aos torturadores. Mas não quero morar ao lado de um torturador, estuprador", afirma Junior.

O grupo de jovens, ligado à Via Campesina, começou a se organizar no Rio Grande do Sul em 2006 e ganhou força em 2011, com a participação de estudantes secundaristas, universitários e jovens da periferia. Muitos já participavam de outros movimentos sociais, como Junior e Lira, que se conhecem há dez anos. No início do ano, um acampamento do Levante Popular da Juventude reuniu no Rio Grande do Sul mais de 1,2 mil pessoas.

Com a instalação da Comissão da Verdade, as manifestações devem se intensificar. Para integrantes do Levante Popular da Juventude, se não houver pressão popular a comissão corre o risco de ser esvaziada. "Quando os crimes forem se revelando, vai ficar cada vez mais clara a necessidade de Justiça. A verdade pede a justiça. A Comissão da Verdade foi criada só para esclarecer o que aconteceu. Por isso é preciso pressão popular para cobrar a punição", analisa Junior.

Os protestos são organizados na surdina, para que militares, os "alvos" dos jovens, não desarticulem as manifestações. "Garantir o sigilo é fundamental. Se as informações vazarem, isso pode nos prejudicar", explicaJunior. "Protestamos contra militares aposentados, figuras perigosas", afirma. Um grupo pequeno, de três a sete pessoas, fica responsável por descobrir o endereço dos agentes que atuaram na repressão na ditadura e por mobilizar os jovens em todo o país. Um dia antes - ou mesmo horas antes- do protesto, esse grupo se reúne com os manifestantes, diz quem será o alvo da vez e dá instruções. As redes sociais são usadas com moderação. "As conversas têm de ser olho no olho, à moda antiga", diz Junior. Os gastos com os protestos são poucos, com a compra de tinta para as pixações e faixas. Os recursos são arrecadados com a venda de camisetas e uma "vaquinha" entre os participantes.

Diferente de outros movimentos que lutam pela punição dos torturadores, formado por familiares de ativistas mortos pelo regime militar e desaparecidos políticos, grande parte dos integrantes do Levante Popular da Juventude não teve parentes mortos ou torturados. A maioria também não é vinculada a partido. "Temos outras bandeiras de mobilização. Nossa pauta é a memória e a justiça, mas foi a defesa da punição dos torturadores que nos tornou mais conhecidos", explica Junior. "Acho que esse protesto [de expor os agentes da repressão] é algo novo". Analista de suporte de informática, o jovem afirma ter participado de protestos contra o genocídio da juventude negra, luta por cotas nas universidades e por melhores condições de vida na zona leste de São Paulo, onde vive, entre outros.

Junior, no entanto, lembra que seu pai, morto em 2002, foi preso pelo regime militar quando trabalhava como metalúrgico no ABC paulista. "Ele era da comissão de fábrica da Ford e foi preso sob acusação de dano ao patrimônio. Os operários sofriam uma repressão diferente. Eram acusados de crimes comuns, não de subversão. Não eram considerados presos políticos". Lira diz ter convivido com amigos de seu pai, militante do movimento estudantil, que foram perseguidos e torturados.

"Mas a nossa luta não é por um sentimento pessoal. É uma questão política", diz Junior. Os dois jovens, tidos como os porta-vozes do movimento, veem reflexos na sociedade da falta de punição aos torturadores. "A polícia continua a militar. Essa é uma das principais causas da violência contra a juventude pobre e negra da periferia", analisa Lira.Junior reforça: " Isso abre espaço para que a Polícia Militar, para que e grupos especiais da PM se tornem máquinas de matar. A não investigação de grupos de extermínio da polícia é fruto da ditadura. Ninguém faz nada contra quem tortura e mata".

Na luta pela punição dos torturadores, Lira diz que a pergunta mais frequente que ouve é: "Por que você não vai combater a corrupção?". "Digo para essas pessoas que se organizem e lutem contra a corrupção se é isso que lhes importa. Cada um elege sua prioridade. Para nós agora é o momento oportuno para se reescrever a história do Brasil".

Em 1907, Vargas relativiza escravidão e ataca cristianismo


Em 25 de dezembro de 1907, aos 25 anos, Getúlio Vargas foi o orador da sua turma na formatura na Faculdade de Direito de Porto Alegre.

No discurso, de 41 páginas, exalta as virtudes da civilização grega, e, num tom cientificista e rebuscado, passeia por biologia, psicologia, filosofia, arte e direito. Defende que a escravidão foi importante ao progresso do homem e ataca o cristianismo, em trecho citado por Lira Neto.

A reportagem é de Fábio Victor e Marco Rodrigo Almeida e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 17-05-2012.

Preocupada que a peça fosse usada por detratores do pai, a filha Alzira doou o discurso à Fundação Getúlio Vargas com recomendação de que não fosse divulgado, o que não impediu o biógrafo de consultá-lo.

Leia a seguir trechos do discurso, com ortografia original de 1907.

"E foi mais tarde sobre a soberba ruinaria da civilização greco-romana que desabrochou a flor mórbida do pessimismo christão. [...]

O amar aos outros surgiu como uma formula egoista, "interessada no desinteresse alheio", e a esmola é uma esperança de salvação creditada no activo da bemaventurança. A concepção monistica da philosophia grega foi substituida por esse dualismo absurdo, sobre-carga da maioria dos erros e prejuizos da intelligencia humana. [...]

Christo, preocupado com a salvação celestial menosprezou a familia, como a todos os bens da vida. [...]

Esta religião desnaturou a grandeza da sexualidade, a força propagadora da especie a união dos seres numa transfusão de magnetismo amoroso, considerado como um commercio impuro. A mulher amesquinhada, ser inferior, serpente tentadora do mal. [...]

A lucta não é a desordem, é a obediência dos inferiores aos superiores, é a subordinação aos mais capazes. [...]

Quando o homem não mais eliminou os vencidos, mas escravisou-os, deu um grande passo. [...] Não eliminaram o prisioneiro de guerra - absorveram-no, isto é, filtraram-no atravez o agrupamento social. Reduzido ao captiveiro foi um animal de carga mais intelligente, encarregou-se dos misteres inferiores da vida, arou a terra que proliferou em larga messe de beneficios. O captiveiro hoje prejudicial a economia dos povos e incompativel com a civilisação foi n'aquelle tempo um progresso.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

EUA pode ajudar Brasil a abrir 'caixa de Pandora' do regime militar, diz especialista

Os Estados Unidos devem ajudar o Brasil a abrir a "caixa de Pandora" do seu regime militar, contribuindo com aComissão da Verdade que inicia os seus trabalhos nesta quarta-feira, disse à BBC Brasil um especialista americano em obter acesso a arquivos confidenciais históricos.
Peter Kornbluh, diretor de documentação sobre o Brasil no National Security Archive (Arquivo Nacional de Segurança), uma organização sem fins lucrativos vinculada à Universidade George Washington, acredita que o Brasil deu um passo histórico com a criação da Comissão, após o qual será impossível retroceder.

"Uma vez que a caixa de Pandora do passado for aberta, será muito difícil fechar a tampa novamente", diz, referindo-se aos segredos que podem ser revelados pela primeira vez, e que dariam início a um segundo debate no país, desta vez sobre justiça.

Kornbluh, um especialista em "abrir caixas de Pandora" usando a lei de acesso à informação americana, crê que as informações guardadas nos EUA podem ser valiosas principalmente diante da relutância das Forças Armadas brasileiras em abrir seus arquivos.

Sob pressão para ajudar no trabalho de comissões da verdade na região, ele diz, o governo americano tem liberado evidências ainda que atestem suas "políticas externas desabonadoras, reprováveis e imorais do passado", afirmaKornbluh.
A entrevista é publicada pela BBC Brasil e reproduzida pelo portal do jornal O Estado de S. Paulo, 16-05-2012.
Eis a entrevista.

O que o sr. acha da criação de uma Comissão da Verdade no Brasil?
É um momento significativo, de reconhecimento da história brasileira. Apesar de a Comissão em si não poder processar ninguém - o que é uma grande concessão aos militares - a verdade que será desenterrada por ela pode ser muito poderosa. Uma vez que a caixa de Pandora do passado for aberta, será muito difícil fechar a tampa novamente. Estou otimista que a Comissão levará à Justiça ao desvendar os crimes contra os direitos humanos cometidos durante o regime militar.

O que, na sua opinião, pode potencialmente ser revelado pela primeira vez a partir dos trabalhos da Comissão?
No trabalho de historiadores e pesquisadores de direitos humanos, você não sabe o que não sabe. Embora pareça que muitos dos crimes durante as operações militares sejam conhecidos, se a Comissão da Verdade fizer valer a nova legislação de liberdade de acesso à informação e usar a cláusula desta lei para liberar documentos relativos aos direitos humanos, pode mudar a forma como a sociedade brasileira percebe o seu próprio passado.

O sr. mencionou a concessão feita de saída pela Comissão da Verdade no Brasil no sentido de não processar ninguém. Mas a comissão do Chile também começou com várias concessões e , mais tarde, houve condenações de militares no país.
A Comissão da Verdade também teve as mesmas restrições, vamos chamar assim, da brasileira. Estava significativamente restrita pela sombra da ditadura de Pinochet e pela ameaça de uma violência renovada por parte dos militares. Só foi estabelecida após Pinochet deixar claro que ela não poderia identificar perpetradores de crimes contra os direitos humanos. Mas o relatório extraordinário de dois volumes da Comissão se tornou base para uma discussão nova no Chile, sobre a busca pela verdade. E no fim, como todos sabem, o próprio Pinochet foi indiciado por crimes contra os direitos humanos. Levou anos, foi preciso muita paciência, mas como uma sociedade civilizada, o Chile caminhou da verdade para a Justiça. Os brasileiros também têm sido pacientes. O poder da informação que a Comissão brasileira gerar pode levar a um novo movimento por reconhecimento, prestação de contas e justiça.
Como o sr. acha que as informações contidas nos arquivos americanos podem ajudar nessa tarefa?

Um dos resultados mais claros do envolvimento americano em países latino-americanos na época é que os EUA tinham muitos conselheiros de contrainsurgência na região. As autoridades americanas documentaram o papel do Brasil contra a esquerda - não apenas brasileira, mas argentina, uruguaia , chilena - e o papel do Brasil na Operação Condor, uma colaboração liderada pelo regime de Augusto Pinochet no Chile com todos os regimes do Cone Sul. Entre os documentos de rotina do Departamento de Defesa, deve haver relatórios sobre a infraestrutura e as unidades das forças de segurança brasileira que podem ajudar a relacionar quem eram os responsáveis por determinadas regiões onde ocorreram abusos de direitos humanos. Além disso, pode haver relatórios operacionais detalhados e específicos sobre operações de contrainsurgência, operações como a do Araguaia, que reportem a repressão que ocorreu.

Há disposição dos EUA para abrir esses arquivos?

Os documentos da natureza que estamos falando não são abertos rotineiramente. Os que são considerados altamente confidenciais - que são baseados em fontes dentro do regime militar brasileiro, ou os relatórios de inteligência preparados pela CIA - não são liberados rotineiramente e é preciso uma petição baseada na lei de acesso à informação. Mas hoje, apesar de todo o apoio dos EUA aos regimes autoritários da América Latina na época, a política americana para a região é de fortalecimento de instituições de direitos humanos e da democracia. Os EUA já ajudaram outros países - Guatemala, Peru, Equador - que tiveram comissões da verdade, praticando aquilo que eu chamo de "diplomacia dos documentos", revendo e liberando rapidamente os arquivos em seu poder para uso dessas comissões.

O sr. acredita que o mesmo ocorreria no caso brasileiro?

Nossa organização espera trabalhar com a Comissão da Verdade brasileira para formular requerimentos detalhados junto ao governo americano de documentos cruciais, da mesma forma que assistimos comissões no Peru, Equador, Guatemala, El Salvador, etc.