terça-feira, 20 de março de 2012

Record dedica mais de 25 minutos do 'Domingo Espetacular' para matéria do “apóstolo milionário”

Na última edição do ‘Domingo Espetacular’, a TV Record produziu uma reportagem com mais de 25 minutos de duração sobre supostas denúncias envolvendo o religioso Valdemiro Santiago, fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus. A matéria, comandada por Marcelo Rezende, afirmou que o “apóstolo” desvia dinheiro dos fiéis para benefício próprio.

A reportagem é de Anderson Scardoelli e publicada pelo sítio Comunique-se, 19-03-2012.

A reportagem da Record mostrou que Valdemiro é proprietário de duas fazendas no município de Santo Antônio do Leverger, em Mato Grosso. De acordo com a produção da Record, as propriedades – que juntas somam mais de 26 mil hectares e estariam, segundo a emissora, avaliadas em R$ 50 milhões – foram compradas em nome da Igreja Mundial e, posteriormente, repassadas para a W. S. Music, empresa controlada por Valdemiro.

O material produzido pela Record e exibido na noite do último domingo, 18, não poupou frases de efeito para definir a situação envolvendo a Igreja Mundial do Poder de Deus, o empresário Valdemiro Santiago e a compras das fazendas no Mato Grosso. “Vocês vão conhecer agora, de perto, o paraíso que o dinheiro dos fiéis da Igreja Mundial do Poder de Deus proporcionou a Valdemiro Santiago, o apóstolo”, disse Rezende.

Em outro momento, o jornalista disse que o trabalho de apuração e produção da reportagem durou mais de quatro meses e que “seguiu a trilha do dinheiro, que começa na doação dos fiéis e vai parar no bolso do novo criador de gado do pantanal [mostrando imagens de Valdemiro]”. A reportagem citou que o fundador da Igreja Mundial esteve emSanto Antônio do Leverger e fez com que o “milagre do enriquecimento” deixasse rastros.

Guerra de igrejas

Durante os últimos cinco minutos da reportagem, foi exibido o perfil de Valdemiro e o tema foi o conflito entre a Igreja Mundial do Poder de Deus e a Igreja Universal do Reino de Deus, criada pelo empresário Edir Macedo, dono da Rede Record de Televisão. Rezende conta que Valdemiro foi durante 18 anos membro da denominação do dono da emissora de TV em que trabalha, mas que “abandonou” a igreja em 1998 e criou seus próprios templos religiosos.

A prisão de Valdemiro, por porte ilegal de armas em 2003, foi lembrada pela TV Record, que destacou que o religioso afirmou, na época, que o armamento estava sendo usado para caça e que pertencia a um de seus amigos. Para mostrar episódios da Mundial com a polícia, a reportagem informou que em 2010 três pastores da igreja foram presos acusados de tráfico internacional de armas e estariam, supostamente, envolvidos com bandidos dos morros cariocas.

O jornalista, para quem Valdemiro se “autointitula apóstolo”, afirmou, sem observações, que Macedo é “o bispo”. Na matéria, Rezende afirma que o presidente da Igreja Mundial “ataca com violência” o dono da Universal/Record. A reportagem também mostrou que mais de 50 templos da Igreja Mundial podem receber ordem de despejo por falta de pagamento de aluguel. “O que mais o apóstolo Valdemiro Santiago tem a esconder?” foi a pergunta que encerrou a matéria - disponível na capa do R7 desde a noite de domingo.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Bispo oficializa sua candidatura à presidência de Honduras

O bispo emérito Luis Alfonso Santos afirmou que quer ser presidente de Honduras pelos pobres que há em seu país, que somam uns “cinco milhões”, incluindo “dois milhões e meio de indigentes”, segundo indicou.

A reportagem é do sítio espanhol Religión Digital, 13-03-2012. A tradução é do Cepat.

“Vamos com tudo. Você acredita que é aceitável que se viva dizendo que Honduras é um país pobre, sendo um país rico em recursos naturais, madeira, água, mineração de metal e talvez petróleo?”, sublinhou Santos em imprensa coletiva, ao confirmar que buscará a candidatura presidencial pelo opositor Partido Liberal.

O prelado que no final de 2011, por razões de idade (75 anos), apresentou sua renúncia ao Vaticano como bispo da diocese de Copán, no oeste de Honduras, é promovido por uma corrente denominada “Liberais Autênticos”, surgida depois do golpe de Estado, de 28 de junho de 2009, contra o então presidente Manuel Zelaya.

Santos, que condenou o golpe de Estado, sinalizou que se não ganhar a candidatura presidencial pelo Partido Liberal, a que pertencia Zelaya quando foi tirado do poder e do país, tampouco apoiará aos liberais “golpistas”, que apoiaram a derrubada do ex-presidente.

Na opinião de Santos, o governo de Porfirio Lobo, que assumiu em 27 de janeiro de 2010, “não está seguindo nenhum plano de desenvolvimento”, enquanto que ele conversou com sociólogos sobre um plano de saúde pública, produção agrícola, pecuária e de animais de curral para atender os problemas dos pobres.

“Pelo bem comum e a defesa dos direitos humanos eu aceitei”, anunciou o religioso de 75 anos, que no ano passado se retirou da diocese, após 46 anos de exercício sacerdotal.

Santos também argumentou que a decisão de aceitar a proposta “responde a uma necessidade atual da nação hondurenha, que na sua maioria se encontra na extrema pobreza”. “Efetivamente, de oito milhões de hondurenhos, cinco milhões são pobres e destes cinco milhões, dois milhões e meio são indigentes”, manifestou.

Além disso, o bispo destacou os problemas de insegurança e desassossego, assim como o desemprego que afeta aos hondurenhos. “Muitas pessoas em Honduras perderam a fé e a esperança na classe política que até agora governou o país”, e “Honduras aparece como o terceiro país mais pobre e o segundo mais corrupto da América Latina”, lamentou.

O bispo afastado não quis integrar o movimento Liberdade e Refundação (Libre), que promove Zelaya, e que está dependendo do reconhecimento do Superior Tribunal Eleitoral, como partido político que buscará o poder nas eleições gerais de 2013.

Até o momento, os cinco partidos legalmente inscritos em Honduras são: o Nacional, que está no poder, o Liberal, primeira força de oposição, e os minoritários, a Democracia Cristã, o Inovação e a Unidade Social Democrata, de esquerda.

Papa e México, Igreja em crise


Em um momento em que a hemorragia de fiéis atinge também a Igreja do segundo país mais católico do mundo, a esperança é que a visita do Papa Bento XVI ao México (de 23 a 26 de março), possa dar um novo impulso.

A reportagem é de Marco Tosatti, publicada no blog San Pietro e Dintorni, 12-03-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Enquanto cresce no país a expectativa pela viagem já iminente, o presidente Felipe Calderón anunciou que, por ocasião da permanência do pontífice, está previsto um encontro oficial. Os números do último censo revelam que o catolicismo no México viu uma diminuição de 88% para 84% nos últimos dez anos.

Mas o arcebispo de León, José Guadalupe Martín, está convencido de que a presença do Santo Padre poderá "fortalecer a fé entre o povo". Por outro lado, afirma Guadalupe Martín, prelado de uma das três cidades que o papa visitará no estado de Guanajuato, não devemos nos fixar sobre os números e medir as quantidades, mas sim avaliar a qualidade do catolicismo praticado e a intensidade da fé.

E se é verdade que há uma diminuição em termos percentuais – observa – também é verdade que a situação, olhada a partir de uma perspectiva diferente, revela que mais de 90 milhões de mexicanos se declaram católicos, um valor que deve ser considerado, sem dúvida, "muito alta". Segundo o arcebispo, a diminuição dos fiéis deve ser vista em relação a um outro fato, ou seja, à difusão da "presença' de outros grupos religiosos", em parte outras Igrejas históricas, mas também novos grupos e seitas.

Nos últimos 30 anos, de fato, apareceram inúmeras comunidades de estilo norte-americano, principalmente evangélicos e pentecostais, caracterizados por uma rejeição ao catolicismo. E o que papa encontrará em sua chegada é um país que foi o ponto de referência para a fé católica por quase 500 anos, mas com uma realidade que está sofrendo mutações muito rápidas na sua fisionomia religiosa.

Por essa razão, o Conselho dos Analistas Católicos anunciou a distribuição nas paróquias de cartilhas que descrevem as posições do papa sobre vários assuntos. Além de dar a conhecer o pensamento do papa – explicaGuillermo Gazanini, secretário do órgão –, visa-se a ir ao encontro das pessoas que abandonaram a fé católica para ir para outras religiões. A missão do papa, segundo Gazanini, é a de uma nova evangelização do México e de toda aAmérica Latina.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Foto de Herzog alimentou luta interna

A morte do jornalista Vladimir Herzog numa cela do DOI-Codi em São Paulo, em 25 de outubro de 1975, alimentou uma disputa interna de poder na ditadura militar. Documento divulgado anteontem pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) é uma nova peça importante no quebra-cabeça desse caso e serve como mais uma prova de que a famosa foto do jornalista enforcado dentro da cela, divulgada pelos militares, foi manipulada pela ditadura.

A informação é do jornal O Estado de S. Paulo, 08-03-2012.

Uma carta enviada em 23 de janeiro do ano seguinte pelo general Newton Cruz ao general João Figueiredo, chefe dele no Serviço Nacional de Informações (SNI), dá mais detalhes dessa disputa e destaca que um panfleto com uma foto do corpo de Herzog, não divulgada à época pela imprensa, tinha a mesma rubrica usada em manifestos anônimos produzidos contra ele dentro do regime de exceção.

Divulgada na íntegra pelo deputado no site www.leidoshomens.com.br, a carta cita uma foto pouco conhecida do corpo de Herzog com elementos que escancaram a farsa do suicídio. Essa imagem citada por Newton Cruz mostra as barras de ferro da janela da cela em que o corpo de Herzog foi colocado. A extremidade de uma cinta que envolveu o pescoço do jornalista foi amarrada na parte inferior de uma das barras de ferro, a 1,63 metro do piso da cela.

Já na época se questionou que o corpo não estava suspenso: os joelhos estavam dobrados no chão, um dos argumentos que derrubaram em 1975 a versão do suicídio. Mas a foto divulgada naquele ano pelo Instituto de Criminalística não exibia a parte superior das barras, para dificultar a compreensão de que Herzog foi amarrado e não se amarrou.

Um dos casos mais emblemáticos da distensão da ditadura militar, o assassinato de Herzog marcou também o acirramento da disputa de poder entre comandantes da ditadura. Na carta, Newton Cruz aponta que seus "detratores" eram do Centro de Informações do Exército, o antigo CIE, atual CIEX.

Aparentemente, Cruz teria feito comparações entre o panfleto com a foto do jornalista e outros que o difamavam e o chamavam de "traidor e cachaceiro". "Alguns dados interessantes: a fotografia não foi publicada nos jornais", escreveu Newton Cruz a Figueiredo. "Até onde sei, foi difundida pelo CIE, em cópia xérox, para outros centros de informações." "A carta de Newton Cruz para Figueiredo não mostra preocupação com o episódio Herzog. A preocupação é com a luta interna", destaca o deputado Miro Teixeira.

Jornalista

Autor da reportagem, Miro diz estar matando saudade do tempo em que atuou como jornalista. "Temos uma equipe no site que está disposta a fazer muitas reportagens."

Quatro dias antes de a carta ser enviada, o então presidente Ernesto Geisel demitiu o general Ednardo D´Ávila Mello, do comando do 2.º Exército de São Paulo (posteriormente extinto), que respondia pelas dependências do DOI-Codi onde Herzog e um metalúrgico, Manuel Fiel Filho, foram mortos pela repressão.

A carta de Newton Cruz e a fotografia menos conhecida do corpo de Herzog ajudam a reconstituir a cronologia de uma disputa que não parou com a tentativa de golpe dentro das Forças Armadas de um grupo "linha dura" contraGeisel, em 1977, e a indicação de Figueiredo, da turma mais "moderada", para a Presidência, em 1979.

Atentados

A guerra interna ainda produziu uma centena de atentados a bomba por parte de militares radicais contrários à redemocratização.

O caso mais emblemático ocorreu na noite de 30 de abril de 1981 no pavilhão do Riocentro, no Rio de Janeiro, durante um show de MPB em comemoração ao Dia do Trabalho.

Dois militares estavam no estacionamento do pavilhão para instalar bombas, mas uma delas explodiu no colo do sargento Guilherme Ferreira do Rosário, morto dentro do carro em que estava, acompanhado do capitão Wilson Luís Chaves Machado, que sobreviveu.

Jornalista tinha apenas 38 anos

O assassinato do jornalista Vladimir Herzog, à época com 38 anos, no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna, o DOI-Codi, um centro de tortura em São Paulo, marcou o início do fim da ditadura militar no País.

Diretor de Jornalismo da TV Cultura, e acusado de subversão, ele foi convocado no dia 24 de outubro de 1975 para prestar esclarecimentos na sede do DOI-Codi, na Rua Tutoia, zona sul de São Paulo. Compareceu na manhã do dia seguinte e, no final da tarde, estava morto.

A partir de então, uma campanha internacional foi deflagrada contra o regime militar, que tentou emplacar a versão de que Herzog tinha se suicidado em sua cela. Essa versão foi contestada logo que se divulgou a foto que tentava simular o suicídio.

Uma celebração ecumênica em memória de Herzog, na Catedral da Sé, em São Paulo, reuniu milhares de pessoas. Em outubro de 1978, a Justiça responsabilizou a União pela morte do jornalista. Até hoje não foram divulgados os nomes dos agentes que o torturaram e mataram.

Casado com a publicitária Clarice Herzog, ele teve dois filhos. Trabalhou em veículos como o Estado, a BBC de Londres. a revista Visão e a TV Cultura. Em 2009 foi criado em São Paulo o Instituto Vladimir Herzog, para difundir o trabalho do jornalista e promover ações na área de direitos humanos.